(artigo recepcionado por mail)
O erro olímpico
Terminados os Jogos Olímpicos, já é possível fazer um balanço da prestação do «double» português em Pequim com algum distanciamento. Se no capítulo desportivo esteve acima do esperado – o que se pedia a Fraga/Mendes era a final B, o diploma olímpico (e estatuto de finalista?) é um saboroso extra –, houve um capítulo em que a dupla portuguesa ficou muito aquém do esperado, nomeadamente no que concerne em conquistar espaço mediático.
A culpa, convém defender antes da argumentação, não é de Pedro Fraga, nem de Nuno Mendes. Esclarecido este ponto, vamos ao essencial. A modalidade de remo alcançou uma prestação de alto nível entre a delegação nacional, só comparável ao sétimo lugar de Ana Hormigo (judo), ao oitavo de Ana Cabecinha (atletismo) e às boas prestação de alguns dos velejadores (falta-me, no momento em que escrevo, a tabela de resultados para frisar com precisão). Melhor do que Fraga e Mendes só fizeram três atletas: o azarado Gustavo Lima (vela), a um ponto da medalha de bronze, e a excelência desportiva de Nelson Évora (atletismo) e Vanessa Fernandes.
O bom resultado do remo não teve, contudo, visibilidade mediática. Houve um ligeiro fogacho no dia da final B, de pronto ofuscado pelo anúncio de despedida de Francis Obikwelu. De resto, a modalidade não aproveitou um momento único para conquistar notoriedade, deixando-se ofuscar por diversos factores, como resultados surpreendentes (a não-qualificação de Naide Gomes em atletismo), críticas infundadas (Telma Monteiro, judo) ou «bocas» disparatadas (Marco Gomes, atletismo).
A pouca visibilidade dedicada aos dois remadores foi bem aproveitada quando, antes de terem resultados (bons ou maus) a justificar, disseram de sua justiça em relação à forma como foram tratados pela Federação. Não interessa, agora, se tinham ou não razão no que disseram. O que importa é que, à parte essas declarações, não mais se falou do remo nacional.
A culpa, reafirmamos, não é dos tripulantes do «double». Uma organização que se preze tinha tido atenção a esse «pormenor» fundamental que é a comunicação, sobretudo quando está em causa a participação no maior evento desportivo do mundo, logo que o que capta mais atenções e, por inerência, movimenta mais dinheiro a nível de patrocínios, publicidades e gestões de direitos diversos. É fácil, agora, apontar o dedo à Federação, tanto mais que a prestação dos dois remadores nacionais pouco mais mereceu do que umas linhas diárias no sítio oficial. Em contraponto, basta ver o comportamento da Federação Portuguesa de Canoagem, que criou um blogue de forma aos interessados poderem acompanhar o dia-a-dia dos atletas nacionais.
Eu recuso-me, porém, a acusar a Federação. Tem a sua dose, sim, mas fundamentalmente os responsáveis são todos os envolvidos no remo nacional, de atletas e treinadores e dirigentes. Falta uma cultura de comunicação, de partilha de opiniões ou de debate, que resulta numa total ignorância de aproveitamento das escassas oportunidades mediáticas. Mesmo ainda antes de assegurada a presença olímpica, era obrigatório ter «treinado» os atletas a lidar com a atenção mediática. Sendo eles os «heróis» da façanha, precisam de saber como explicar o que sentem, o que querem, o que precisam. Além disso, era preciso um «gabinete sombra» a fazer pressão junto da Comunicação Social, de forma a não desperdiçar qualquer minuto de mediatismo. Não se pode esperar que um jornalista «desportivo» consiga distinguir um voga de um proa quando, durante os três primeiros anos do ciclo olímpico, nem sequer há quem acompanhe a modalidade.
A cultura e inteligência dos dois remadores (não é por acaso que ambos se licenciaram mesmo sem abandonar a modalidade) permitiu-lhes ter o discernimento de, além de não caírem na ratoeira de prometerem medalhas agora em Pequim (um clássico deste Verão), anteciparem as condições necessárias para poderem tentar as medalhas em Londres 2012. Pedro Fraga e Nuno Mendes estão mais soltos e fluentes a nível de expressão do que há quatro anos, mas continuam a ser uma excepção neste capítulo. É preciso estimular a comunicação interna para se saber o que dizer para fora da modalidade.
O que deve, pode e vai fazer o remo para Londres 2012?
João Miguel Ribeiro
Jornalista de remo e Técnico de Comunicação Social.
1 comentário:
Eu sou um leigo nesta matéria, mas provavelmente a primeira coisa deveria ser mudada seriam algumas mentalidades, a partir dai tudo se tornaria mais fácil.
Lá está, esta é a opinião de um leigo em remo, mas não da vida.
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