25 abril 2009

Sorrisos de Abril


Parece cliché, mas assinalar o 25 de Abril parece, também, ser cada vez mais necessário.

Devem reparar que quando que se aproxima esta data se ouvem e lêem das mais absurdas barbaridades.
São tantas que nem consigo ordená-las e pronunciar-me sobre as mesmas.
Apenas deve ficar dentro dessas cabecinhas que, o Sr. Salazar não era, não foi, um "bom homem".
A vida não era melhor.
Cada vez que alguém o diz e, ainda por cima, já é de uma geração que deveria estar devidamente informada, custa-me. Mas contra a ignorância apenas podemos ir escrevendo umas coisas e, mais importante ainda, dizendo outras tantas a todas as oportunidades possíveis.

Deixar os energúmenos dizerem barbaridades é dar-lhes poder.

25 de Abril sempre, sim! Mesmo que a nossa democracia tenha muito para melhor, mesmo que ainda não seja um país decente, sejamos nós mais decentes e façamos nós por isso em vez de apenas reclamarmos.

35 anos depois lá fui eu, do Marquês de Pombal ao Rossio, ver e ouvir o que vai na alma deste povo.

5 comentários:

Jorge Monteiro disse...

Olá Paula
Concordo plenamente com o que escreveste aqui.
O título é bem aplicado à foto.
Beijinho

Anónimo disse...

E dia 1 de Maio também lá estaremos a descer novamente a avenida, na esperança de estarmo a caminhar em direcção a um futuro, também ele mais sorridente.

Foi uma tarde bem passada.

Bjinhos
Mariana

NGuedes disse...

Ora lá está, vamos lá ser mais decentes :)

Adorei o soriso de abril

Paula disse...

Querida Paulinha a foto é linda e estou contigo: ABRIL SEMPRE!!!
E como já deixei este meu testemunho em amigos meus, tu mais do que ninguém mereces conhecê-lo:

O meu pai trabalhava na VA, foi um grande profissional e era muito inteligente. Lia muito, em matemática e português era uma "barra" e só tinha a antiga 3ª. Classe. Ele ensinava-me e eu com 5 anos já escrevia o meu nome, conhecia os números e sabia muitas coisas, nessa altura ainda era filha única.
Era meio-dia desse fatídico dia o apito da fábrica tocou a minha mãe dirigia uma loja com os meus avós maternos, (que também vendiam louça) mas que davam almoço a mais de vinte trabalhadores da fábrica. Eu estava sentadinha à espera do meu pai na cozinha no topo de uma mesita onde ele comia com mais 3 colegas. Ele entrou muito triste, quase nem olhou para mim nem me fez a festa que costumava fazer. Levou a minha mãe para o quarto, e estiveram, lá fechados, algum tempo. Eu não entendia nada.
Saíram os dois com os olhos de quem tinham estado a chorar.
Ele não comeu, disse que não tinha grande fome, ela serviu os clientes com um olhar que eu desconhecia nela, perguntavam-lhe estás triste mulher? Ela abanava a cabeça a dizer que não.
Os funcionários da ex-Pide que aguardavam por ele na fábrica tinham-lhe transmitido para ele ir a casa, não contar nada a ninguém, que levasse alguma roupa, que dissesse à mulher que se calasse e que apenas ia para um interrogatório.
Ele chamou-me ao quarto e à minha mãe beijou-nos com lágrimas nos olhos, saiu, (apenas deixou que a minha mãe servisse os clientes, que só pagavam no fim de cada quinzena, quando recebiam).
À noite não voltou e eu não entendi nada, fazia perguntas e ninguém me respondia.:-(
A minha mãe só chorava. Depois apareceram lá em casa cinco mulheres amigas que choravam com ela (mulheres dos outros 5 que foram com ele). As seis foram a casa do Director da fábrica que não as atendeu, a seguir foram a Aveiro ao Governador Civil ao Dr. Vale Guimarães. Ele atendeu-as e transmitiu-lhes que eles estavam bem, em Coimbra, apenas para interrogatório. Uma delas da Vila de Vagos implorou de joelhos aos gritos que intercedesse por eles todos, que eram todos boas pessoas e que não eram contra o Governo. Ele tranquilizou-as dizendo que ia fazer alguma coisa.
E lá estiveram 6 Meses em Coimbra na penitenciária. Eu visitava-o sempre todas as semanas, íamos de comboio ou de autocarro.
Em Abril de 1974 o meu pai estava já doente na cama, mas ainda sorriu e viveu feliz aquele tempo que se seguiu.
Logo a seguir foi publicado o livro 25 de Abril que lho li e ele já à beira do fim.
Faleceu em Novembro desse ano, vítima de cancro.

VIVI O 25 DE ABRIL DE 1974, NA ALTURA COM VINTE ANOS DE IDADE, COM UMA ALEGRIA EXTAZIANTE, NA ESPERANÇA QUE TUDO MUDASSE E FELIZ PORQUE O MEU PAI TAMBÉM ESTAVA, E ATÉ PENSEI QUE OS MÉDICOS ESTAVAM ENGANADOS PORQUE SENTI MELHORAS NA SUA DOENÇA.

Ainda tenho esperança que tudo mude e que essa igualdade que eu ambicionava volte e que os pobres (que cada vez são mais) tenham também direito a ter uma vida digna.

Bem hajam a todos os que lutaram pela liberdade, e pela igualdade social, mas que infelizmente os "homens" do meu tempo não a souberam aproveitar.

Um grande beijinho,
Ana Paula

Jonny disse...

25 de Abril sempre.
Adorei o sorriso :)